Escovar os dentes pode salvar seu cérebro

NO CASO DE PESQUISADORES ESTAREM FAZENDO AS CONTAS CERTAS, CUIDAR DA SAÚDE BUCAL PODE TRAZER MUITO MAIS BENEFÍCIOS À SAÚDE DO QUE O MERO COMBATE À CÁRIE E AO MAU HÁLITO, COMO REDUZIR OS RISCOS DE ENFARTOS E DERRAMES CEREBRAIS


Pesquisadores de Taiwan revelaram nesta semana que ter os dentes profissionalmente limpados reduz o risco de ataques cardíacos em 24% e o de derrames em 13%. O estudo foi realizado através da análise dos dados de 100 mil usuários do sistema de saúde do país, acompanhados por pelo menos sete anos. Apesar de um motivo factual para a correlação não ter sido oferecido, alguns cientistas teorizam que bactérias comumente causadoras de inflamações na gengiva e problemas dentários podem provocar infecções e inflamações crônicas no organismo, as quais contribuiriam para o endurecimento de artérias, motivo freqüente de derrames e ataques cardíacos.


Escovar os dentes, um gostoso e divertido hábito


Correlacionar a saúde bucal com a cardíaca e a cerebral pode parecer pouco ortodoxo, porém não se trata da primeira vez que associações do tipo são apresentadas. Ano passado, por exemplo, uma pesquisa britânica acompanhou 11,869 adultos escoceses durante oito anos e concluiu – apesar de também não fornecer as causas desta associação – que deixar de escovar os dentes duas vezes ao dia aumenta em 70% os chances de se ter doenças cardiovasculares. Apesar de estes estudos associativos serem publicados em respeitados periódicos científicos e receberem o aval de vários pesquisadores, poucos consideram seriamente seus resultados. O principal argumento contra tais pesquisas é que cometem uma falácia trivial ao correlacionarem efeitos a causas observacionais vagamente estabelecidas. Neste caso, ter uma saúde bucal ruim indicaria falta de cuidados higiênicos básicos e hábitos alimentares nocivos por parte da pessoa, os quais poderiam ser os reais causadores de problemas de saúde futuros.

         Alguns estudos tentam corrigir os dados a fim de não incorrerem nestes equívocos lógicos. A pesquisa taiwanesa analisou apenas indivíduos que não haviam sofrido ataques cardíacos e derrames, porém deixou de ajustar os dados para fatores de risco como obesidade, hipertensão, diabetes e consumo de cigarros. Todos estes fatores foram considerados, porém, no estudo bretão, e mesmo assim a correlação entre a saúde bucal e a cardíaca se manteve. Todavia, dúvidas quanto às conclusões persistem. No paper inglês, os próprios autores concluem que “a natureza causal da associação [entre higiene oral e doenças cardiovasculares] ainda deve ser determinada”. Em 2000, uma pesquisa que procurou por esta mesma associação buco-cardíaca acompanhou 8000 pessoas durante duas décadas e concluiu não haver correlação convincente alguma. A misteriosa ligação entre a saúde da boca e a de demais órgãos continua sendo, por enquanto, um exercício exótico de análise de dados.