A ponte aérea dos laptops

POLÊMICO PROJETO DE DESTRIBUIÇÃO DE COMPUTADORES PRETENDE LANÇAR LAPTOPS DE HELICÓPTEROS EM ZONAS POBRES E ESPERA QUE CRIANÇAS APRENDAM SOZINHAS A MEXER NAS MÁQUINAS

Nicholas Negroponte, professor do MIT e eminente visionário da tecnologia, afirmou no início do mês que sua associação One Laptop per Child distribuirá o mais recente modelo de seus computadores de maneira inusitada em regiões pobres do planeta. A idéia é arremessar os tablets XO-3, que suportam chuvas e quedas de até 9 metros, de helicóptero.  As crianças dos locais escolhidos para os lançamentos, público-alvo da associação, seriam capazes de aprender sozinhas a manejar o aparelho, garantiu Negroponte.

 O professor-empresário Nicholas Negroponte com o modelo XO-3

            A One Laptop per Child foi criada em 2005, à época com apoio de empresas de grande porte como Google, AMD e News Corp., com o intuito de vender computadores de baixo custo para países pobres, permitindo que as crianças do local adquiram contato com a tecnologia e possibilitando que elas sejam educadas de uma maneira moderna. 

Apesar dos mais de 2 milhões de laptops já vendidos, o projeto foi duramente criticado desde seu início. Representantes de governos de países em desenvolvimento argumentam que, em termos educacionais, é muito mais barato construir bibliotecas do que investir 100 dólares ou mais, por criança, no projeto de Negroponte. Além disso, educadores de todo o mundo são cautelosos ao equacionar acesso à tecnologia a melhorias de fato no conhecimento dos alunos. "Pais, professores e educadores estão certos em se preocupar com o tempo que a criança fica diante do computador, no caso de ele substituir experiências e atividades de aprendizado básicas", afirma Chip Donohue, diretor de ensino à distância no Erikson Institute, em Chicago. Nos Estados Unidos, até mesmo pré-escolas já colocam as crianças frente às máquinas. Se por um lado isto permite que os professores tenham maior facilidade em controlar a classe e repassar conteúdo, por outro os ganhos educacionais desta medida são incertos. 

Sugata Mitra, em apresentação no TED, analisa o experimento indiano de auto-aprendizado por crianças

Quando questionado sobre a utilidade de se arremessar computadores em locais nos quais não haverá professores qualificados ensinando as crianças a utilizar a tecnologia, Nicholas Negroponte referiu-se a um famoso experimento, realizado na Índia, que parece demonstrar que elas têm grande capacidade de aprender sozinhas a lidar com as máquinas. Porém, a dúvida se elas usarão os XO-3, sem orientação, com a finalidade de se educar, se mantém. “Talvez um irmão mais velho pegue para si [o tablet], use-o para pornografia – assim é a vida”, ameniza o empresário.