Telhados: a nova fronteira verde

VISADAS PARA COMBATE AO AQUECIMENTO DO PLANETA, IDÉIAS BENQUISTAS DE USOS ECOLÓGICOS PARA AS COBERTURAS DE EDIFÍCIOS PODEM AGRAVAR O PROBLEMA, CONCLUI NOVO ESTUDO


              Modificar o ambiente urbano é um ideal ambientalista constante, especialmente desde que se correlacionou o aumento da temperatura do planeta à atividade humana. Grandes centros densamente povoados, poluidores e desmatados, as cidades são caracterizadas como representantes da maneira errônea de uso dos recursos do planeta. Soluções que as tornariam mais “verdes” variam em complexidade e inventividade. Uma das mais bem vistas é a adaptação das coberturas de edifícios a fim de se mitigar o aquecimento global. Transformar os telhados em gramados ou pequenas hortas já é uma realidade, obrigatória em parte do mundo; pintá-los de branco é uma idéia conhecida, agora seriamente questionada.



              Copenhague, a capital dinamarquesa, pretende se tornar a primeira “capital neutra” no uso de carbono até 2025, e para isso seus legisladores voltaram os olhos para o alto. A cidade aprovou uma lei em junho que obriga novos telhados com menos de 30 graus de inclinação a receberem um carpete verde, composto principalmente por gramíneas. Espera-se que anualmente mais de 5 mil metros quadrados de áreas verdes sejam criados. Tal lei baseia-se na idéia de que “telhados verdes” trazem uma série de benefícios para o meio ambiente, como diminuir os custos de calefação e resfriamento do edifício, aumentar a vida útil dos telhados, melhor controlar o aproveitamento das águas de chuva e transformar dióxido de carbono em oxigênio.


              Pintar os telhados de branco também seria uma solução para diminuir a temperatura das cidades. A cor refletiria até 90% da radiação solar de volta ao espaço, auxiliando na conservação de energia e na diminuição do calor. O ganhador do Nobel de física de 1997 Steven Chu, atual ministro de Energia do governo norte-americano, defendeu a idéia logo após sua posse, em 2009. “Telhados frios são uma das maneiras mais rápidas e baratas de se reduzir nossas emissões globais de carbono e de se começar o duro trabalho de diminuir a mudança climática”, garantiu o ministro ao determinar que as coberturas de todos os prédios do Departamento de Energia fossem pintadas de branco. De acordo com Chu, caso 85% dos edifícios com ar-condicionado nos EUA tivessem seus tetos pintados de branco, economizar-se-iam 750 milhões de dólares anuais em energia elétrica. Seguindo o mesmo conceito, em agosto o grupo Greenpeace lançou a campanha “White is the new Green”, defendendo, através de fotomontagens com formato de animais, a pintura de telhados nesta cor.


               Todavia, as boas intenções de Chu e do Greenpeace podem, na realidade, piorar o aquecimento do planeta. Detalhado estudo de pesquisadores da universidade de Stanford [link] divulgado semana passada concluiu que pintar telhados de branco ajuda realmente a diminuir a temperatura das cidades, porém causa um acréscimo na temperatura geral da Terra. O fenômeno ocorreria uma vez que tais coberturas aumentam a estabilidade do ar, diminuindo o transporte vertical de umidade e energia para as nuvens, o que dificulta sua formação; havendo menos nuvens, maior radiação solar chega à Terra. Além disso, a maior quantidade de radiação refletida à atmosfera aumenta a absorção de energia por poluentes escuros, como carbono, o que também contribuiria para elevar a temperatura no planeta. “Não parece haver benefício em se investir em telhados brancos”, afirmou o principal autor do estudo. “A coisa mais importante [a se fazer] é reduzir emissões de poluentes que contribuem para o aquecimento global”, completou o pesquisador.