Novo atlas é lançado com erro grosseiro e deixa cientistas “indignados”

ÚLTIMA EDIÇÃO DE RESPEITADO ATLAS MOSTRA DERRETIMENTO DE 15% DAS CAMADAS DE GELO DA GROENLÂNDIA, NÚMERO 150 VEZES MAIOR QUE O REAL; CIENTISTAS “INDIGNADOS” CRITICAM O GRAVE ERRO E TEMEM POR SUA DIVULGAÇÃO COMO EVIDÊNCIA CIENTÍFICA  

Na última semana, a nova versão do livro “The Times Comprehensive Atlas of the World” (Abrangente Atlas do Mundo do The Times, em tradução livre) foi lançada com um grosseiro erro logo identificado por glaciologistas. A publicação, da editora HarperCollins em nome do jornal londrino The Times, mostra em seus mapas a Groenlândia com uma perda de 15% de sua camada de gelo nos últimos 12 anos devido ao aquecimento global. Uma área equivalente ao do Reino Unido somada à da Irlanda foi retratada no mapa como “verde”, quando na verdade ainda está coberta de gelo.

“É um erro muito ruim de mapeamento”, diz a especialista em geleiras Liz Morris do Instituto de Pesquisas Polares Scott (SPRI), da Universidade de Cambridge. Caso os 15% do gelo tivessem derretido, o nível dos mares teria subido em 1 metro. “Isso obviamente não aconteceu”, ela afirma. Os 15% de derretimento apresentado nos mapas do Atlas é 150 vezes maior do que o gelo que de fato derreteu, ou seja, apenas 0,1% das geleiras da Groenlândia foram perdidas ao longo dos últimos 12 anos. Esta diferença é tão pequena que não apareceria em mapas da mesma resolução dos mostrados no Atlas.

Morris revela sua preocupação de que o erro seja visto como evidência de cientistas exagerando os efeitos do aquecimento global. “Este foi um erro por parte de um cartógrafo, não um cientista, e foi agravado pela publicidade. Assim que cientistas o viram, ficaram absolutamente indignados. (...) Estamos muito nervosos, pois foi um erro estúpido. Porém, podem dizer que cientistas afirmaram isso, e não é verdade”.


Mapa do Atlas (esquerda) mostra 15% de derretimento de gelo; mapa publicado pela NSIDC (direita) mostra apenas a camada mais espessa de gelo e pode ter sido mal interpretado


Um representante da HarperCollins disse ter recebido esse e “muitos outros dados precisos”   do Centro Nacional de Dados de Neve e Gelo dos Estados Unidos (NSIDC), e acrescentou que os 15% de recuo na camada de gelo, ocorridos desde a edição lançada em 1999, foi resultado do aquecimento global.

Um mapa divulgado em 2001 pela NSIDC mostrando a extensão da camada mais central e espessa de gelo da Groenlândia foi a provável fonte do erro. O mapa não mostrava as camadas periféricas de gelo, e os cartógrafos do Atlas provavelmente o tiraram de contexto. “Infelizmente, a NSIDC não foi contatada”, diz Ted Scambos, principal cientista da NSIDC. “Não apenas poderíamos ter ajudado, como muitos grupos poderiam ter percebido [o erro] imediatamente”. 

Sheena Barclay, diretora da Collins Bartholomew, disse que está esperando resposta do editor do Atlas, Jethro Lennox, para tomar providências. Contudo, ela defende o número de 15%, que diz ter sido obtido a partir de comparações entre dados de 1999 e 2011. Ainda segundo Barclay, a introdução do Atlas explica o problema do derretimento de calotas de gelo e ressalta que mais estudos precisam ser realizados.